HOMENS
Homens, melhor tê-los. E aprender com eles o que nos ensinaram por
meio da poesia, da literatura, das artes quando dominavam sozinhos esses
territórios. O amor romântico é uma invenção do masculino. Fruto da
inteligência emocional para tornar menos árida a luta pela sobrevivência e a
reprodução da espécie. Afinal, o que fazer no intervalo entre um ato sexual e
outro? Como me ensinou um amigo: quem ama é o homem,
a mulher confia.
Mas há os desencontros,
desacertos e uma grande discussão entre natureza e cultura, como se os humanos
não fossem filhos dos dois. E agora a nova lei que equipara abuso a estupro,
para o bem e para o mal.
Homens não são objeto de desejo
das feministas radicais de gênero que acreditam ser o órgão sexual do homem,
assim como o machado, uma arma utilizada desde a pré-história para atemorizar
as mulheres e mantê-las sob seu jugo. E que toda sedução masculina é um
estupro, só que alguns homens se dão ao trabalho de comprar uma garrafa de
vinho.
A teoria oficial do estupro, nos
Estados Unidos, originou-se no livro de Susan Brownmiller, “Against our Will” –
Contra nossa vontade- lançado em 1975 que apresenta o estupro como crime de
violência e não de sexo.
A doutrina do “bom selvagem” aliada
à percepção da década de 1960, quando o sexo deixa de ser visto como sujo e
passa a ser encarado como natural, e como o que natural é bom, o estupro sendo
um mal não teria vinculação com o sexo. Como se o sexo não fosse também
cultural e um tsunami fosse bom porque é um fenômeno da natureza.
A idéia das feministas passa a
ser uma avaliação consensual e em 1993 a ONU-Organização das Nações Unidas
declara: “O estupro é um abuso de poder e
controle no qual o estuprador tenciona humilhar, envergonhar, embaraçar,
degradar e aterrorizar a vítima.”
Essa idéia foi posta em dúvida
quando em 2000 é publicado ”A natural of rape” - do biólogo Randy Thornhill e
do antropólogo Craig Palmer. A lógica apresentada na pesquisa é que havendo
possibilidade de procriação, mesmo que pequena, poderia ser uma “tática
oportunista”, uma ação selecionada, e não excluída, do processo de seleção
natural. “Ou poderia ser subproduto de
duas outras características da mente masculina: o desejo por sexo e a
capacidade de praticar violência oportunista para atingir um objetivo.”
Estes cientistas não apresentam
nenhuma justificativa moral para o estupro, pelo contrário, apresentam cenários
onde haveria maiores possibilidades de ocorrência e fazem sugestões para
evitá-lo.
Também sugerem que a aversão das
mulheres ao sexo forçado teria origem na sua natureza biológica: a fêmea é que
escolhe o macho para copular, selecionando os genes que desejam para dar
continuidade à espécie.
Estas idéias incendiaram o campo
feminista e a crítica em geral: os autores haviam desrespeitado um tabu.
A questão principal que se
apresenta é que se o estupro e sua proibição estão presentes em todas as
sociedades humanas, o que pode ser feito para diminuir sua ocorrência?
Legislação com graves punições é
uma óbvia medida, afinal o papel da cultura é afastar o homem de sua natureza
animal e instituir regras civilizatórias. Quando os laços da civilização se
afrouxam, no caso de guerras e ausência do Estado, o estupro é uma prática
muito mais freqüente do que gostaríamos de supor. Assim como a tortura,
amplamente divulgada, infringida por soldados americanos, homens e mulheres, a
prisioneiros iraquianos, por exemplo.
A relação sexual evidentemente
deve ser consensual, mas excluindo os casos praticados por psicopatas, e os de
guerra (considerando-os uma patologia coletiva), até onde pode ser razoável atribuir
toda responsabilidade ao homem?
Quando depois de aceitar o jogo
de sedução, uma mulher concorda em ir para o quarto de um homem? Temos o famoso
caso do lutador Mike Tyson que rendeu uma boa indenização à vítima e cadeia
para o acusado. Neste, como em tantos outros não existiria um consentimento
implícito da mulher? Não podermos desconsiderar o puritanismo da sociedade
americana e a conseqüente hipocrisia, além da indústria de indenizações que é
uma instituição naquele país.
No oposto ao puritanismo, o que
dizer dos bailes funk do Rio de Janeiro onde se praticam, pública e
anonimamente múltiplos “estupros consentidos”?
E o que pensar do argumento que
justifica a violência como expressão legítima dessas comunidades?
E por que não se discute
seriamente a precoce erotização das crianças pelos programas infantis da
televisão. E porque confundi-los com a prática em voga de dar “selinho” e dizer
“eu te amo” como se essas expressões fossem destituídas do erotismo que na
verdade contêm. O ato sexual é para adultos. Às crianças deve-se permitir a
infância. E todas as fantasias que lhes cabe em suas mentes infantis. E não as
nossas. Será que para elas um tapinha não dói?
Referências:
Pinter,
Steven. Tábula rasa – A negação contemporânea da natureza humana-. São Paulo,
Companhia das Letras, 2004.
Cap. 18: Gênero
Por
Ana Terra de Niterói. 04|09|2009
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