Muitos pensam o mundo como uma realidade autônoma, anterior e separada do ser humano que, por sua vez, seria um banco de dados a armazenar passivamente o conhecimento que recebe. A visão fragmentada da vida, em variadas correntes do pensamento, tem sido hegemônica porque serve ao poder dominante. Ao enfraquecer a vida, separando-a em partes, o indivíduo perde sua potência e, ao fragmentar-se, pode ser manipulado com mais facilidade.
Vivemos a era da especialização, do clone e do descartável. Conhecendo cada vez melhor o menor, nos afastamos da totalidade. Quando sentimos dor, nos referimos a um pedaço do corpo que dói e consultamos o médico especializado naquela área. Mas, na verdade, quando adoecemos, é nossa unidade de corpo e alma, nosso mundo que adoece. Estamos nos comunicando, usando a doença como metáfora, uma linguagem para dizer que alguma coisa no mundo percebido, que, por sua vez me percebe, está em desequilíbrio.
Mas quando necessitamos de um atendimento médico, na maioria das vezes, em vez de uma terapêutica de reintegração, somos induzidos a mais fragmentação. Isolam-nos de nossa história pessoal e dos elos afetivos para facilitar a prática de uma medicina invasiva, impessoal e pragmática, onde somos avaliados do ponto de vista de um saber padronizado e estatístico. Privilegiando a objetividade como condição para a exatidão científica, o subjetivo é jogado fora como a criança junto com a água do banho. Como nos diz Merleau-Ponty, “A ciência manipula as coisas e renuncia a habitá-las.”
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