sábado, 21 de junho de 2014

A alma encarnada - 7 - Drogas

Não tenho distanciamento crítico, embasamento científico ou pretensão acadêmica, me baseio apenas na experiência vivida. Um amigo que já foi dependente químico e nossas conversas sobre drogas, sexo e rock n' roll. Over dose, depressão, fundo do poço e solidão. Mas também horizontes azuis, cânticos e maravilhamento. O que pude observar em muitos anos é que não se pode lidar com a questão da dependência química demonizando a droga.


Em primeiro lugar precisamos admitir que droga é bom. Cerveja, cigarro, vinho, maconha, calmante, açúcar, cocaína, analgésicos, daime, morfina, café, Coca-cola. Ruim é a dependência provocada pela compulsão. Que pode ser por uma substância, pode ser por sexo, pode ser por dinheiro. Existem inúmeras formas de ser dependente. Inclusive do tratamento.

As pessoas se drogam basicamente por dois motivos. Para sentir menos ou para sentir mais. As drogas que anestesiam e as que abrem mais portas para a percepção. Nas duas formas estão contidos prazer e dor, como tudo na vida. Quando a dose se torna over é porque o namoro com a dama sedutora chamada Morte está virando um caso sério. Ninguém quer que um ente querido morra. Temos enorme dificuldade de encarar o fim. Criamos deuses e religiões para acreditar que a vida não termina com a morte mas não aceitamos que alguém em sã consciência possa preferir morrer a viver. Quem nunca sentiu vontade de sumir? Há momentos em que a gente olha para a vida e pergunta: poxa, é só isso? Quero brincar de outra coisa!...



Claro que tudo se tenta para livrar quem se sente prisioneiro das drogas, inclusive o tratamento considerado mais eficaz que são o AA e o NA, modelo americano formatado no molde evangélico do testemunho. Só tem que ter cuidado para não trocar uma droga por outra. Essa afirmação de que são todos portadores de uma doença incurável chamada dependência química é tomar a consequência como causa. Além de bancar um grande comércio que se sustenta no “tratamento” do dependente.

Um comentário:

  1. Belo texto, Ana Terra.
    Estamos ainda engatinhando no que se refere à compreensão desse problema.
    O que é o vício? Qual o limite entre o que é e o que não deve ser considerado dependência, digamos assim, maléfica, de qualquer tipo de substância.
    Não seria vício o fato de os neurônios não entrarem em curto circuito e provocarem convulsões só sob o efeito de medicamentos anticonvulsivantes? Mas esse seria um vício necessário.
    Há vício necessário?
    Onde está o limite entre o vício e o simples uso de uma droga qualquer?
    É bom que não nos esqueçamos de que uma droga considerada medicamentosa também pode provocar uma overdose ou - em linguagem médica - atingir um ponto de saturação que a transforme em "dosagem tóxica"..
    Temos ainda muito caminho pela frente até conhecer, dominar e poder, de forma consciente, não demonizar qualquer tipo de droga.

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