terça-feira, 11 de março de 2014

GUARDADOS de Joyce e Ana Terra



Nos meus guardados guardo com todo cuidado

os retratos, os recortes, as lembranças da infância
convivendo lado a lado os vestidos sem decote
do primeiro casamento, da primeira comunhão
as coisas sem importância já sem cor e sem pecado
um pedaço de cabelo, um sorriso desbotado
uma chave que não abre, quadras, cartas sem resposta
um anel que já não cabe, um coração amassado

Nos meus guardados guardo com todo cuidado
o meu riso de criança como se fosse pecado
a paixão que ainda não tive sem começo e sem destino
quando se rasga eu remendo como se fosse um vestido
guardo o brilho dos meus olhos e a loucura que não fiz
esse ar que sempre falta na hora de ser feliz
guardo a beleza mais densa e a cicatriz mais sofrida
as coisas que ninguém pensa guardo pra mim minha vida


Um comentário:

  1. Aninha, esta linda poesia é um lencinho bordado com tuas iniciais. Que bom não a teres mantido em teus guardados!!!

    ResponderExcluir