O Menino chegou no alto da Montanha, a maior do mundo, velho e cansado mas feliz. Agora finalmente podia contemplar seu reino. Valeu a pena ler e reler durante toda vida o Livro Sagrado que ensinava o tortuoso caminho das alturas. Seguiu os ensinamentos à risca. Conseguiu lugar na expedição como simples ajudante. Carregava peso e paciência. Engolia desaforos e os restos de comida que sobravam dos pratos superiores. Sem reclamação, afinal cada um tem o que merece. E fez por merecer.
Logo cedo percebeu que só poderia chegar adiante se fosse humilde, trabalhador e não questionasse jamais as origens de nada. Acreditasse sempre sempre naquele do qual dependia, no Céu ou na Terra. Senhor, chefe ou imperador, não importa seu nome, só importa que está acima.
Pouco a pouco companheiros iam ficando pelos caminhos e ele, atento, rapidamente apressava o passo e ocupava o lugar vago. Chegou ao meio da Montanha. Agora seria a parte mais árdua, íngreme e solitária mas estava mais confiante do que nunca. Conquistava pequenos postos de chefia dentro da expedição. Finalmente chegou lá. No fim da vida. Deu o último suspiro e ouviu a Voz Poderosa ecoando pelos vales.
-Meu filho seja bem vindo! Terá a recompensa por ter sido tão fiel a mim. Peça! Todos os seus desejos serão satisfeitos.
-Ah! Meu Senhor, seja louvado! Estou muito feliz!
Corria o tempo e a Voz Poderosa lhe dava tudo mas ele nunca ficava satisfeito. Faltava sempre alguma coisa até que descobriu e fez o pedido.
-Senhor, me perdoe incomodar mas eu queria que trouxesse todos os companheiros da expedição que não conseguiram chegar até aqui. E que pudessem compartilhar dessa fartura toda.
A Voz Poderosa pela primeira vez gritou com irritação:
-Peça tudo, menos isto!
-Perdão Senhor! Como pude cometer tamanha heresia?! Cheguei ao lugar mais alto e me arrisco pelos outros a descer aos infernos!
-Mas meu filho, onde você pensa que está?
Esse é o fim dos gananciosos e sem escrúpulos!
ResponderExcluirO texto é incrível, Ana Terra, trazendo essa antítese final, o esforço para gal gar o topo que nāo existe, as pseudo conquistas que nāo passam de ilusāo.
Nossa, mexeu comigo...leva a uma profunda reflexão interior. As vezes é duro chegar só, mas dividir o prêmio com seres superiores não tem preço. Beijos Ana.
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