O Menino e sua fome anoiteceram na aridez. Nenhum acalanto doce, só o choro escondido, o pesadelo desperto, a febre na escuridão. A imitar o chão duro o corpo enrijece e gela. Enfim o Menino adormece e pela primeira vez escuta alguém cantando só pra ele uma canção comprida, leve, sem pressa.
Teme abrir os olhos, acordar, perder a visão. Sente nos cabelos um carinho e se assusta com tanta novidade. Estremece, levanta num salto e paralisa ao ver pela primeira vez a Mãe. Ela carrega um cesto de onde retira frutas, pães e mel que arruma na mesa: -vem comer, meu filho.Tudo é tão natural que ele cumpre. Chegam outros e outros estranhando o Menino e se sentam em volta da Mãe que inicia a história:
-Existe um lugar de onde vem o Menino em que vivo em chagas e aos poucos morrendo de tão retalhada por loucos que fincam em mim suas estacas. A ferro e fogo sou possuída. O esperma dos insanos contém todos os venenos misturados ao sangue que ao brigarem por mim tiraram de seus semelhantes. Assim mesmo continuo minha missão de sustentar a matéria gerando seu alimento. O Menino veio de seu lugar para me conhecer sem cercas e falsos donos. Provar de minha natureza onde nenhum fruto é proibido porque não é guardado. Nenhum se estraga ou falta. Pertencem apenas à necessidade de gerar energia e crescimento.
De onde você vem, meu filho, todos agonizam porque violaram a Mãe Primordial. Todos os males provém desse ato.Todas as guerras, todas as mortes. Eu te ensinarei a fundamental diferença entre a posse e o apego a mim. Você simboliza o instinto de sobrevivência
Saúdo tua força.
Que texto !
ResponderExcluirBelíssimo, forte, como toda fábula, repleto de ensila entons é verdades.
A imagem também é linda, parabéns pela escolha.
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