A Mulher levantou olhos para o Céu com saudades da Mãe. Do tempo em que ela reinava e tudo estava em ordem. Do tempo que andavam juntas a colher as plantas que depois separavam por espécie para em seguida transformarem em chás, xaropes, pomadas que distribuíam a cada um segundo suas necessidades.
A primeira vez que a Mãe adoeceu foi quando um filho chegou na Grande Casa trazendo um animal no laço. Ela sentiu o peito endurecer e o leite empedrar.
Depois outro filho voltou das montanhas com um brilho estranho nos olhos igual ao que viu escorrendo das pedras que trouxe e assou no fogo. Ela sentiu uma pontada no ventre como uma punhalada. Isso não vai dar certo, pensou.
Na terceira e última vez foi quando a filha, contrariando a tradição, resolveu servir para sempre ao homem que a engravidara, saindo da Grande Casa. Levou mudas de algumas ervas da cura, plantou na nova morada e cercou só para eles. A Mãe sentiu a cabeça girar, tonteou e perdeu o equilíbrio. Aí ela teve certeza que nada mais ia dar certo.
Seus descendentes descobriram rapidamente que depois de escravizarem os animais, poderiam fazer o mesmo com os homens e até trocar uns pelos outros, ou pelas plantas cercadas. E para facilitar ainda mais, inventaram que tudo poderia ser trocado pelas entranhas arrancadas da Terra que depois de polidas cintilavam que nem estrelas. Passaram a ser o valor mais cobiçado de todos.
Indignada com tanta desordem a Mãe retirou-se e foi viver no Céu para sempre transformada em constelação. Não suportou a dor de ver a filha tão amada nunca mais saber o que é amor.
E lá do firmamento, a māe continua a ver seus filhos errarem cada vez mais.
ResponderExcluirNão suportou tanto desgosto.Incredula da própria criação,se entregou ao silêncio da eternidade.
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