Precisamos reconhecer que somos privilegiados por pertencer
a uma classe social que além de comer todo dia, tem acesso a tantos alimentos
da alma. Isso nos convida a refletir sobre uma questão permanente na vida do
Homem e que a despeito de todo o conhecimento acumulado durante séculos mostra
cada vez mais sua face brutal na atualidade: a exclusão social e afetiva.
O uso que fizemos dos grandes inventos tecnológicos foi e é
cada vez mais imoral. Com nossa participação ativa, ou nossa omissão, o que no
fim dá no mesmo, permitimos que a riqueza gerada pelo trabalho de toda a
humanidade em vez de se transformar em melhores condições de vida para todos,
foi parar nas mãos e mentes cada vez mais anônimas dos que operam os grandes
conglomerados econômicos.
Essa nova forma de
gerenciar o mundo criou um dogma para tentar tornar inquestionável seu poder: a
chamada ‘globalização’. Mesmo concordando com a visão otimista de Antonio Negri[i] ,
afirmando que o mesmo germe de construção do Império está presente em sua
destruição, como por exemplo, a mesma globalização tecnológica permitiu a
democratização imediata da informação, pela rede da Internet, a questão é que
não basta ter conhecimento dos fatos, é preciso que eles nos afete, é preciso
incorporá-los.
Na verdade somos massacrados continuamente pelo braço mais
perverso desse sistema: os meios de comunicação de massa. Sua perversão
consiste em nos iludir de que estamos participando dele ao receber todo tipo de
informação. Aí está o grande engano. Qualquer informação que exceda nossa
capacidade de elaborar se transforma num lixo que vai se acumulando até entupir
de vez nossos canais de percepção.
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E são esses canais entupidos que permitem, por exemplo, que uma
notícia aterradora como a existência de brasileiros vivendo hoje sob regime
escravo em nosso próprio país, receba do governo como punição, simplesmente o
não direito a financiamento público quando se trata de crime hediondo contra a
humanidade. Ou que aceitemos como verdade que o MST-Movimento dos Trabalhadores
Rurais sem Terra seja o que é mostrado todos os dias no noticiário: um bando de
porra-louca baderneiros que sai por aí invadindo propriedades produtivas. Por
que não mostram o projeto educacional do MST, sua agricultura orgânica ou uma
Mística? Por que não dizem como Noam Chomski que é um dos movimentos sociais
mais importantes que acontece no mundo?
Que suas propostas podem criar um novo paradigma de vida para a
humanidade?
Ou por que fugimos como o diabo da cruz quando ouvimos ”-aí, perdeu, tá ligado, já é.”? A mídia
burguesa já nos mostrou que esse é o dialeto dos bandidos. E além do mais não
podemos suportar a idéia que a juventude favelada e excluída tenha capacidade
de organização política como o movimento Hip Hop. E que analfabetos sejam
criativos, potentes e produzam arte. Em nossa arrogância de elite desprezamos
tudo aquilo que não podemos controlar. E os desqualificamos.
in: Minha Arte: relatos de uma aprendizagem 2004
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