terça-feira, 3 de junho de 2014

A alma encarnada -12 - Exclusão Social e Afetiva

Precisamos reconhecer que somos privilegiados por pertencer a uma classe social que além de comer todo dia, tem acesso a tantos alimentos da alma. Isso nos convida a refletir sobre uma questão permanente na vida do Homem e que a despeito de todo o conhecimento acumulado durante séculos mostra cada vez mais sua face brutal na atualidade: a exclusão social e afetiva.

O uso que fizemos dos grandes inventos tecnológicos foi e é cada vez mais imoral. Com nossa participação ativa, ou nossa omissão, o que no fim dá no mesmo, permitimos que a riqueza gerada pelo trabalho de toda a humanidade em vez de se transformar em melhores condições de vida para todos, foi parar nas mãos e mentes cada vez mais anônimas dos que operam os grandes conglomerados econômicos.

Essa nova forma de gerenciar o mundo criou um dogma para tentar tornar inquestionável seu poder: a chamada ‘globalização’. Mesmo concordando com a visão otimista de Antonio Negri[i] , afirmando que o mesmo germe de construção do Império está presente em sua destruição, como por exemplo, a mesma globalização tecnológica permitiu a democratização imediata da informação, pela rede da Internet, a questão é que não basta ter conhecimento dos fatos, é preciso que eles nos afete, é preciso incorporá-los.

Na verdade somos massacrados continuamente pelo braço mais perverso desse sistema: os meios de comunicação de massa. Sua perversão consiste em nos iludir de que estamos participando dele ao receber todo tipo de informação. Aí está o grande engano. Qualquer informação que exceda nossa capacidade de elaborar se transforma num lixo que vai se acumulando até entupir de vez nossos canais de percepção. 


E são esses canais entupidos que permitem, por exemplo, que uma notícia aterradora como a existência de brasileiros vivendo hoje sob regime escravo em nosso próprio país, receba do governo como punição, simplesmente o não direito a financiamento público quando se trata de crime hediondo contra a humanidade. Ou que aceitemos como verdade que o MST-Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra seja o que é mostrado todos os dias no noticiário: um bando de porra-louca baderneiros que sai por aí invadindo propriedades produtivas. Por que não mostram o projeto educacional do MST, sua agricultura orgânica ou uma Mística? Por que não dizem como Noam Chomski que é um dos movimentos sociais mais importantes que acontece no mundo?  Que suas propostas podem criar um novo paradigma de vida para a humanidade?

Ou por que fugimos como o diabo da cruz quando ouvimos ”-aí, perdeu, tá ligado, já é.”? A mídia burguesa já nos mostrou que esse é o dialeto dos bandidos. E além do mais não podemos suportar a idéia que a juventude favelada e excluída tenha capacidade de organização política como o movimento Hip Hop. E que analfabetos sejam criativos, potentes e produzam arte. Em nossa arrogância de elite desprezamos tudo aquilo que não podemos controlar. E os desqualificamos.

in: Minha Arte: relatos de uma aprendizagem 2004




[i]  Negri, Antonio. “O Império”

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