sexta-feira, 27 de março de 2015

Nem nada que direito fosse chegava a mim

Quando eu machucava os meus pés nas pedras
quando o mundo todo me mandava a merda
quando nem uma flor, nem um carinho
nada que direito fosse chegava a mim
minha mão com dor o corpo inteiro 
mais fremia o espinho, 
já que a dor é minha e por dever a sinto
já que o sofrimento não tem fim
e assim mesmo na visão turva de um quase cego
via lampejos de fantasmas e almas penadas surdas
que tocavam minha língua em desespero por palavras
meus braços se lançavam aos céus como afogado
e deles fugiam demônios
que ainda hoje eu quase pego
e com essas mãos imundas de um desgraçado 
afagava sem engano a invisível face 
eu me acostumei a beijar a morte
andar sem rastro, estrelas, gasto
eu ando gasto
eu sou um bosta que nasceu sem sorte 
de quatro pra lua, catando o pasto.

Ana Terra/André Bolívar - 2015

Um comentário:

  1. Que belo poema, Ana Terra e André Bolívar.
    Não me lembro de já o ter lido, isso é curioso. Bem, mas o que importa é a integração, como sempre perfeita, dos dois poetas. Impossível saber quem escreveu o quê.
    Parabéns aos dois. Nós, leitores, ficamos esperando por muitas outras parcerias incríveis como todas as suas.

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