quarta-feira, 23 de julho de 2014

A ALMA ENCARNADA - 1

Cansaço, fome e solidão. Os pés quase parando e o coração mais acelerado. Os seres noturnos aquecendo as vozes, a encruzilhada adiante, o medo de perder-se para sempre. A hesitação. Talvez ela sente e chore mansamente, talvez grite e amaldiçoe o destino, talvez respire fundo, esvazie os pulmões e a mente, feche os olhos, rode em volta de si mesma com o indicador esticado e siga o caminho que o inconsciente, a sorte, Hermes, enfim, ela mesma escolheu. Mais uma vez, a mais triste das virtudes a impulsionou e seguiu movida por um fio de esperança. Ou teria sido pela fé, a mais irracional? Logo adiante, sentado em posição de lótus, imenso e silencioso, um homem abriu os braços e ela coube inteira no seu colo. Adormeceu aquecida e alimentada pelo Buda-Nagô.

Esse foi o sonho inaugural, na primeira semana do curso, estudando o primeiro texto: “Da natureza e da origem da alma”. A interpretação é clara. Vivendo uma crise em vários níveis, há muitos meses, eu estava à beira de uma estafa. O meu corpo reclamava com dores e não respondia mais aos tratamentos tradicionais analgésicos, anti-inflamatórios e fisioterapia. Eu tinha que dar uma virada na minha vida.

In "Relato de uma Aprendizagem" - Ana Terra /2004

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