domingo, 27 de julho de 2014

FRAGMENTOS DE MIM - VIII - O intelectual e a artista

Eu tenho um amigo que é professor doutor na Universidade de Viena e o  que acho mais lindo na vida é o pensamento abstrato, a capacidade de pensar idéias puras e conceituar e demostrar como o raciocínio pode elaborar teses, e eu me esforçava para ler seus escritos achando talvez que a inteligência pudesse ser um tipo de vírus que a gente pega do outro.  Mas a coisa que ele mais achava lindo em mim era o contrário, a liberdade de não justificar nada e acreditar em lendas e deuses e tocar nas emoções com intimidade e falar da vida vivida sem nenhum pudor, porque não terá uma banca te examinando e te pedindo explicações. Mas eu me empenhava em aprender a pensar, já que não tenho o elemento ar no meu mapa astral e a gente tem que trabalhar o que te falta, a função inferior. Minha mesa de cabeceira tinha sempre uma pilha de livros e meu marido zombava, isso que é Mil Platôs literalmente, referindo-se à obra de Deleuze e Guatarri. Mas aprendi com alguns livros a amparar um pouco a água livre do sentimento com margens de palavras e pensares.  E que a obra de arte é o saber debruçando-se sobre o não saber. 

Ana Terra

3 comentários:

  1. Gosto tanto de seus textos que não acho palavras para escrever, Ana Terra. Lindos? Não é isso que queria dizer..... bonitos? Também não.....leio seus escritos com gosto, releio, penso nas palavras, no sentido, nas entrelinhas e nas linhas, é claro.

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  2. Como todos, mais um texto delicioso este. Seu segredo deve ser esse, admirado por seu professor doutor: "Falar da vida vivida sem nenhum pudor". Este talvez seja o traço mais marcante e adorável de sua obra. Parabéns, Ana Terra, lê-la é sempre um renovado prazer.

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  3. Essa definiçao de "obra de arte" é a mais bonita que conheço!

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