domingo, 27 de julho de 2014

FRAGMENTOS DE MIM - III -

A tarde me cobria de lilases e corais e corria como uma demente para o homem que me chamou, vem minha flor, e eu ia. Sempre fui, desde um inverno num bar com o primeiro namorado, eu no banheiro esfregando pernas e braços pra me aquecer e a faxineira, -nesse frio melhor que casaco é homem, homem é quente, e encostei nele confirmando. 

Nunca entendi os homens são todos iguais, são tão diferentes que dá um trabalho danado escolher  qual cor me iluminará  para ele, e imaginar de qual parte de mim ele se encantará, porque a gente diz, gosto tanto de você, mas ninguém gosta de tudo, sempre é um nada que encanta e o resto faz parte. Pode ser a nuca que apareceu quando prendi o cabelo, um silêncio na hora certa, meu ar distraído que o surpreendeu, o peito que encostei no dele, a palavra bonita que saiu, um afago na curva do quadril, mas cada um é de um jeito. E eles me ocupavam tanto que fui me desvencilhando da obsessão por peixes, palavras, e de ler os outros por dentro.  Desde então meu ofício é procurar arco-íris e descobrir que homem é mesmo uma maravilha.  

3 comentários:

  1. A arte eh expressao do amor...
    Felizes os que se dedicam a ela! E sao reverenciadas por ela!
    Brilhante carreira, Ana!
    Muito mais sucesso, e mais e mais... Bjs Gilza Martins

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  2. Lindo texto. Estou encantada. Leveza e lirismo em cada verso. Seu estilo único e inconfundível. Adoro ler Ana Terra.

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  3. Mais um texto brilhante, cheio de vida e de cor.
    Belíssimas metáforas, muita sonoridade mas, acima de tudo, images maravilhosas que se somam, que dāo um movimento e um brillo enormes ao texto.

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