O que me salvou de não ser uma louca histérica reacionária foram pessoas tortas e destoantes que encontrei pela vida desde a adolescência no nordeste com minha curiosidade de ver o lado escuro da força que muitas vezes era o brilhante, o padre comunista do interior que não dava ouvidos às fofocas das beatas sempre a denunciarem quem se "perdeu" e ele só respondia, a senhora sabe quantas pessoas passam fome no mundo? A adúltera que só tinha eu como amiga porque todos lhe davam as costas, o cara inteligentíssimo e muito feio que namorei para horror de minhas colegas do colégio de freiras que me achavam linda porque era carioca, as empregadas domésticas que voluntariamente consegui alfabetizar ensinando a escrever cartas de amor e letras das músicas do Roberto Carlos, as duas coisas que mais tinham serventia para elas. Tive muita sorte de ser uma menina doce e tranquila e ter, como definiu minha nora, uma calma preocupada, e assim observar que outras idéias e tipos de pessoas existiam além da minha família de militares, e disso não guardar rancor, apenas saber que são muitas e muitas as escolhas que se pode fazer na vida e assim desenvolver um senso crítico, uma riqueza interior complexa em diversidade, e então sim, sempre me posicionar diante da realidade e tentar escolher a que me conduzirá ao lado mais justo da força.
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