No semestre seguinte, participei do curso em que o pensamento de Merleau- Ponty se entrelaçava com os de outros autores e com os nossos, alunos de variadas áreas, confirmando a importância da experiência vivida como acesso às essências da consciência. O próprio ato de estudar me deu oportunidade de perceber minha autopoética- que aqui desenvolvo como “relato de uma aprendizagem” traçando paralelos entre minha vida vivida e meu trabalho em poesia e prosa, como experiência encarnada na expressão estética.
“Por corpo entendo um modo que exprime, de uma maneira certa e determinada, a essência de Deus, enquanto esta é considerada como coisa extensa.”
Ao me deparar com Spinoza, primeiro autor da bibliografia do curso, me deparei com o medo de não possuir inteligência (Ar) suficiente para entender um racionalista. Sua forma geométrica de expor um pensamento apavorou minha forma sentimento (Água) de apreender o mundo. Por que, a essa altura da vida, quando todos pensam em se aposentar eu invento uma pedreira? Voltar a estudar... na tentativa de superar essa terrível aversão ao estudo formal. A escola sempre foi uma prisão que não tinha sentido. Eu poderia desistir mas estaria desistindo de uma aventura que o Destino teve a gentileza de me oferecer, docemente num sussurro: “Fundamentos para uma Antropologia Filosófica do Corpo, o tema te interessa, você é antes de tudo sensação (terra), matéria, corpo, e sabe bem, eu não bato na mesma porta duas vezes...”
A cada semana, um medo de não dar conta e um maravilhamento por conseguir, ao menos um pouquinho, entrar no texto. Descobri um atalho para isso. Eu precisava conhecer alguma coisa da vida pessoal do autor para compreender o que o levou a pensar o que pensou. Às vezes, quando tinha dados, calculava até o mapa astral da figura. Passou a ser fundamental conhecer onde e de quem nasceu, infância, vida amorosa, amigos e inimigos, enfim, o que chamei de “revista Caras” dos pensadores. Outra coisa, foi não brigar com o texto, ter paciência e não desistir quando ficava chato tantas demonstrações de uma mesma ideia, tanto detalhamento e rigor, tanta racionalidade...
In "Relato de uma Aprendizagem" - Ana Terra /2004
No conhecimento a gente absorve e decodifica. Para conhecer eu preciso também ter repertório. Esta é a diferença entre informar-se e conhecer. Quem absorve a informação já completou o procedimento. Quem conhece vai além do informar-se, traz seu repertório para fazer a decodificação do que absorveu. Por isto, o conhecimento tem a ver com contextualização. A compreensão vai além porque necessita de maior abrangência, a partir do conhecimento e do desvelamento dos significados. A tendência para o gosto na direção de um ou outro processo, está na conexão entre ar, água, terra e fogo presentes em nossa existência. Gostei muito do teu texto. Parabéns pela coragem da entrega de tua alma para informação, conhecimento e compreensão de tantas outras pessoas. Aprender sempre. bjo
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